No Espírito Santo, o artesanato com a taboa, uma planta aquática, vira um bom negócio e ajuda na preservação ambiental. O trabalho de uma comunidade capixaba é apoiado por um programa com o objetivo de abrir novos mercados.
A taboa é uma planta aquática, típica de brejos. A espiga, da cor do café, é muito conhecida por quem vive no interior. E a sua fibra, durável e resistente, é usada como matéria-prima no artesanato. Com ela, podem ser feitas bolsas, caixas e até móveis.
O artesanato mudou a rotina de quem vive nas comunidades do entorno da lagoa de Mãe-bá. Entre os municípios de Guarapari e Anchieta, na região de Vitória.
Bastam alguns minutos de barco para avistar a taboa. Ela cresce nas margens do lago. Mas para colher toda a planta é preciso fôlego.
A artesã Valdete Santos mergulha para cortar o caule, o mais rente possível à raiz. Acostumada ao serviço, ela já conseguiu apanhar 600 hastes em um único dia.
“[Cansa] um pouco, mas é muito bom, gostoso de cortar taboa. Eu gosto (…). Me dá um prazer de ver o trabalho pronto bonito. É obra da gente. A gente fez, cortou, fui na lagoa, cortei a taboa, botei para secar, tratei dela”, diz a artesã Valdete de Jesus Santos.
É preciso ter atenção com o barro no fundo da lagoa e a profundidade, que ultrapassa dois metros em alguns pontos.
A parte da taboa que é usada para o artesanato fica submersa. Ela é mais maleável, tem maior durabilidade e resistência. É preciso mais ou menos cinco plantas para fazer uma bolsa.
O trabalho é realizado pelo núcleo de artesanato em taboa, do município de Anchieta, uma associação que vem desde 2006. A atividade ajuda a controlar a mata nativa através de um manejo consciente. A planta tem uma substância chamada fenol que, em excesso, pode poluir a água.
Na sede da associação, onde trabalham 12 pessoas, as folhas da taboa secam durante 20 dias. Os artesãos retiram a casca para começar a trabalhar.
O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) ensinou os primeiros passos aos artesãos.
“As primeiras peças que a gente aprendeu foi com o Sebrae. Depois, ele foi dando o curso, e a gente foi acompanhando, e até hoje está apoiando a gente”, diz a artesã Zilda Mendes de Sousa.
Com a fibra, criam trançados e as peças vão surgindo. “Nós já fizemos flores, nós já fizemos coisas que nunca ninguém pensou em fazer com a taboa. Então, a gente quer dar continuidade a isso e criando cada vez mais”, afirmou a artesã Ana Maria Nunes.
As habilidades evoluíram. É o incentivo do Sebrae ao artesanato capixaba. “O Sebrae investiu nos cursos de formação de preço, de marketing para o setor artesanal, e na melhoria da produção por meio da intervenção de design”, diz Izolina Passos, do Sebrae de Vitória.
A associação já foi premiada 14 vezes pelo trabalho de artesanato e preservação ambiental.
“Dá satisfação pessoal, nos traz compensação financeira e traz assim uma satisfação muito grande no convívio entre nós e as famílias tudo é muito bom”, afirma Ana Maria Nunes, artesã.
Os artesãos produzem quase 300 itens. Um puff, por exemplo, é vendido por R$ 260. O núcleo de artesanato em taboa tem um faturamento médio de R$ 12 mil por mês.
A comunidade e a taboa ganharam o mundo. A associação recebeu um prêmio da Unesco graças ao trabalho de preservação ambiental, sustentabilidade e geração de renda.”
Entre 96 concorrentes do Mercosul, uma bolsa da associação ficou em primeiro lugar. Ela custa R$ 75 e virou uma referência do artesanato do Espírito Santo.
“O Sebrae entrou no grupo, fez todas as capacitações, mas o mérito do grupo é ter tomado isso para eles mesmos, eles se apoderaram dessa matéria-prima e do produto, e hoje chegaram onde chegaram”, ressalta Izolina, do Sebrae.
Fonte: G1 (http://g1.globo.com/economia/pme/noticia/2013/07/artesanato-com-taboa-uma-planta-aquatica-gera-negocios-no-es.html)