Trabalhando nesta “era do não emprego”

Vejo, com clareza absoluta, que deste o início deste século, fizemos uma enorme transição para uma “Era do Não-Emprego”, cujas consequências mal começam a ser compreendidas por profissionais, muitas agora desempregados, pelas empresas e organizações e pelo pelos governos.
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Estudiosos como Charles Handy, William Bridges, em seu livro JobShift, Um Mundo Sem Empregos e Jeremy Rifkin, no livro O Fim dos Empregos, já nos alertavam sobre isto desde o início dos anos 90. Muitas vezes foram levianamente considerados visionários pelos mais míopes…
O problema novo que surge agora é que ainda existem relativamente poucos recursos para a necessária reciclagem de conceitos, que profissionais e organizações precisam empreender nesta nova situação.
Existem no Brasil, ainda que em quantidade muito inferior à Europa e Estados Unidos, alguns bons programas de apoio e treinamento para aperfeiçoamento e reciclagem de profissionais, para a transição direcionada ao trabalho independente e consultoria.
Acredito mesmo que nosso curso para Formação Prática para Consultoria, apresentado desde 1996 em todo o Brasil, seja uma das poucas oportunidades que existem por aqui para esta reciclagem, além dos cursos para empreendedorismo do SEBRAE.
Existem também no mercado brasileiro alguns poucos livros sobre o mesmo tema, em sua quase absoluta maioria traduzidos, ambos tendo como público-alvo organizações e pessoas que atuam ou pretendem atuar neste novo ambiente de trabalho do não-emprego.
Por isto escrevi e lancei em 1997 a primeira edição de meu livro, dedicado especificamente a estes profissionais em transição de carreira “Consultoria: O Caminho das Pedras” com mil e uma dicas práticas aprendidas no dia-a-dia de vida independente como consultor ou gestor de projetos sem o vínculo da CLT.
A demanda por esta reciclagem confirma que existe hoje uma consciência rapidamente crescente dos profissionais para atuarem não mais como empregados, mas como “fornecedores de trabalho”, com um “produto” e “mercado” definidos, que os “comprarão” (contratarão de forma independente para necessidades específicas, por tempo determinado) como “não-empregados”.
No admirável mundo novo das relações de trabalho, surgem, a cada dia com mais evidências e força, indícios que já estamos plenamente inseridos nesta nova era. Existirá sempre muito trabalho para aqueles que souberem entender-se como fornecedores e enxergar-se como um “produto”, que oferece soluções para demandas ainda não plenamente atendidas.
São os “empregados just-in-time”, conforme os denomina Rifkin. Somos todos, e seremos cada vez mais, fornecedores de trabalho, com ou sem vínculo empregatício.
O QUE MUDA AGORA
Liderar empresas e este número crescente de não-empregados muda também, e drasticamente. As novas exigências, que precisam ser reaprendidas pelas empresas, incluem, somente para citar alguns poucos exemplos:

  • Alta capacidade de negociação;
  • Gestão de culturas profissionais heterogêneas e variáveis;
  • Motivação em torno de projetos e metas;
  • Coordenação entre empregados e toda sorte de não-empregados;
  • Contratação e administração por processos e resultados;
  • Medição do grau de solução que os “produtos” dos não-empregados oferecem.

Muito bem, pode estar pensando você neste ponto: mas fornecer serviços ou produtos é para empresas! Pessoas têm empregos, não produtos!
Esta visão falha por não reconhecer as drásticas mudanças ocorridas no ambiente de trabalho, onde a relação de emprego ortodoxa não é mais a melhor maneira de realizar o trabalho a ser feito.
As pessoas, empregadas ou não, precisam adicionar valor à empresa para a qual trabalham ou pretendem trabalhar, com ou sem vínculo de emprego, e passar a se ver como elos de um processo, onde todos devem adicionar mais valor do que custo.
E como fazer isto?
Existem duas maneiras muito simples, embora possivelmente demoradas, para você começar sua própria conscientização e mudança:
Em primeiro lugar, veja as empresas como seu “mercado”, e procure nelas quais são as necessidades não atendidas. Você deve ser o melhor candidato, ou melhor, o melhor “produto” (você já deveria ir-se acostumando com sua nova condição!) a supri-las, se estiver atento e for rápido.
Em segundo lugar, avalie quais são seus recursos, o que você oferece, ou em outras palavras, o que você está em condições de vender e entregar a este “mercado”.
Enfim: que produto é você?
A este respeito, William Bridges, que conheci e com quem convivi por longo tempo, oferece uma interessante abordagem, que me permito sintetizar para os leitores em cinco pontos:
A primeira questão é compreender que a tendência clara é que boa parte das pessoas passará partes substanciais de sua vida profissional alternando entre o emprego e o não-emprego. Conheço muita gente assim, eu mesmo me sinto desta forma hoje, e você deveria ir pensando nisto!
Segundo: um produto (ou você, sua especialidade e seu serviço!) existe pelo cruzamento de sua capacidade de entrega profissional e por demandas não atendidas das organizações para as quais você trabalha ou pretende trabalhar.
Terceiro: lembre-se: a demanda não atendida de ontem, que um dia o levou a ser contratado, pode não ser a mesma de hoje ou de amanhã: fique alerta para mudanças em seu “mercado” e adiante-se a elas!
A grande maioria das pessoas, empregadas ou não, ainda não aprendeu a compreender seus recursos e seus “mercados”. Se este for o seu caso, comece a pensar nisto agora! Se já pensou, melhor para você, grande oportunidade de sair na frente!
A quarta questão é: “Você-produto”. Não é o que você faz em seu emprego hoje, ou fez no emprego anterior ou ainda o que poderia fazer se tivesse oportunidade; não é sua descrição de cargo atual; não é sua formação, habilidade ou experiência profissional.
Quinto e último ponto para reflexão e colocar-se no lugar: “Você-produto” é alguém que gere os resultados ou benefícios que seu mercado necessita obter, seja ele seu empregador ou seu cliente, ou alguém que solucione um problema que se esteja enfrentando. Algo que adicione o valor faltante em outros “produtos” já fornecidos por seus concorrentes.
Para encerrar este artigo permita-me sugerir que você tente algo novo: escreva um anúncio sobre você mesmo, sobre “o produto” que você é.
Esta é uma excelente maneira para assegurar a si mesmo que você sabe o que vende, o que trará benefícios aos seus clientes, a quem venderá seus conhecimentos (mercados-alvo), por que ele deveria comprá-lo e como dizer isto a ele.
Boa sorte!
Fonte: Dino Mocsányi, Consultores

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