Homem de 70 anos cria serviço de saúde
Quando Luiz Carvalho, 70 anos, chegou para participar da Startup Weekend Favela levava apenas ideias rabiscadas em papeis antigos – estes, carregados em uma sacola de plástico de um supermercado da zona norte do Rio de Janeiro. Não tinha notebooks ou tablets, ao contrário da maioria dos jovens de “20 e poucos anos” que estavam reunidos no Morro da Providência (RJ) para criar e apresentar projetos a empresários. Conheceu dois jovens, o especialista de marketing Tales Gomes e o publicitário Rodrigo Rodrigues que o o ajudaram a desenvolver um modelo simples e direto de medicina preventiva para auxiliar comunidades carentes.
O negócio foi estruturado e, após uma maratona de 55 horas nos dias 28,29 e 30/3, foi avaliado por um júri que reuniu André Diamand, CEO da Investidora Venture One, e José Gabarra, National Expert da UNIDO, da ONU. Ao final, a sua equipe venceu 10 projetos e Luiz tornou-se o ganhador mais velho da Startup Weekend Favela – que soma 1000 edições realizadas em vários países. “O velho não deve ficar jogado em uma casa servindo de office boy”, afirmou em entrevista à Época Negócios. Como prêmio, a equipe de Luiz recebeu produtos da Microsoft e a chance de participar da Demo Brasil, principal competição de startups do país.
Plataforma Saúde
O projeto “Plataforma Saúde” consiste em montar espaços temporários em favelas e trazer enfermeiros e técnicos para realizarem consultas e exames a R$ 15. Com fitas métricas, balanças e equipamentos básicos de saúde, os técnicos fariam os serviços prévios, como medição de sobrepeso, insulina e pressão alta – e auxiliariam, se necessário, o paciente no encaminhamento médico.
Uma das inovações do projeto é o modo de comunicar-se com o paciente, afirma Luiz. “No início, queríamos fazer apenas um check-out popular, mas percebemos a dificuldade de comunicar termos técnicos a pessoas de baixa instrução”, disse. A solução para criar uma comunicação efetiva foi apresentar o resultado com as “cores do trânsito”, símbolo facilmente reconhecido. No cadastro online dos pacientes, o resultado chega com sinalizações em amarelo, verde e vermelho. Cada cor indica o nível de gravidade do paciente, ou seja, a urgência com que ele precisa ser encaminhado a um hospital público. Segundo Luiz, o custo operacional do projeto é baixo: cerca de R$ 3000 para realizar 200 consultas em um mês.
Após vencer a Startup Weekend, uma empresa já foi criada para lançar “formalmente” o negócio do mercado no mês de maio. Carvalho afirmou que há ONGs e instituições interessadas em desenvolver parcerias para levar a plataforma a outras regiões do país. “Não é caridade. Tem que ter serviço social de saúde cobrando, mas com baixo valor e sem visar lucros absurdos”, defende.
Morador de Rocha Miranda, zona norte do Rio, Luiz Carvalho é casado há 40 anos e não tem filhos. Formado em administração de empresas, trabalhou por décadas com perito de uma corretora de seguros. Aposentado formalmente, dedica-se há seis anos ao Instituto Coração Mais Saudável, promovendo análises cardiovasculares em comunidades carentes e ajudando a encaminhar os casos mais graves à Santa Casa da Misericórida do Rio de Janeiro. Foi durante o trabalho que ele teve a ideia que inspirou a premiada “Plataforma Saúde”. Agora, o que ele mais quer é trabalhar na nova empresa e até faz planos de exportar a ideia para a África. “Eu não vou descansar nos próximos anos. Pelo contrário, só vou me cobrar ainda mais”, afirmou. Luiz diz-se muito feliz por mostrar que idosos podem ser produtivos e que sim, “servem para alguma coisa”. “É só nos juntarmos ao mais novos”, acredita.
Fonte: Época Negócios