Como Salvar o Mundo

salvar-mundoCrise, desespero, depressão. Não fossem estas palavras cada vez mais comuns nos noticiários econômicos do mundo inteiro, qualquer leigo no assunto imaginaria estar diante de um quadro dramático de um paciente diagnosticado com distúrbios neuróticos graves. Infelizmente, o paciente se chama “mercado”. Estaríamos próximos do apocalipse? Estariam as empresas condenadas à falência? Estaríamos presenciando o maior caos econômico “nunca antes visto na história”?
Honestamente, não creio que estamos tão mal assim. Acredito, sim, na capacidade dinâmica de renovação da economia, sempre girando em ciclos (neste sentido, sugiro ao leitor, uma busca no Google sobre os trabalhos dos economistas Kondratieff e Schumpeter). E quem faz girar a economia? É justamente neste momento que ganha força um indivíduo muito peculiar em nossa sociedade: “o empreendedor”.
Este ser “amorfo”, que muitos acreditam ser um super-herói das histórias em quadrinhos (portanto, perfeito e dotado de características únicas que os mortais não detêm), nada mais é do que uma grande ficção. Por ignorância ou pouca compreensão da realidade, muitos pesquisadores ditos “doutores” no tema acabam criando mitos indevidos em torno do ato de empreender.

“Suspeita e desconfiança nos outros, hipersensibilidade, hiperatenção, preocupação excessiva com motivos escondidos e significados especiais… distorção da realidade devido a uma preocupação com a confirmação de suas suspeitas.”
Trecho extraído de “The Neurotic Organization”

Mal informados com o que lêem, os jovens talentos começam a perder o ar destemido da adolescência e deixam de vislumbrar um futuro empreendedor como um horizonte profissional possível. Surgem questões que, normalmente, não possuem resposta. Qual será a idéia de US$ 1 milhão? Como deve ser feito o plano de negócio ideal? Quais capitalistas de risco devo buscar?
Pessoalmente, acredito que qualquer dúvida é saudável e representa o ponto de partida para o conhecimento. Entretanto, estou convicto de que algumas das típicas dúvidas que muitos jovens possuem antes de iniciar um negócio mais atrapalham do que ajudam. Afinal, elas acabam afastando o potencial jovem empreendedor daquilo que realmente interessa na hora de começar um novo negócio: iniciar.
Longe de ser exaustivo em minha análise, recorro como fonte de inspiração aos jovens empreendedores a algumas atitudes que normalmente se percebem nos empreendedores de sucesso em qualquer parte do mundo e diante de qualquer situação econômica. O que se observa é que normalmente estes emprendedores são:
Flexíveis: diversos estudos demonstram que grande parte dos empreendedores não possuem objetivos claros sobre o que será o negócio quando os iniciam. Tipicamente, empreendedores bem-sucedidos encaram o ato de empreender em um negócio ou empresa específica apenas uma das infinitas possibilidades que lhe são apresentadas. Na medida em que o negócio se desenvolve, novas idéias, novos recursos e parceiros entram em jogo e, com isso, evoluem também os objetivos pensados inicialmente. Pouco a pouco, o empreendedor passa a entender cada vez mais seu negócio e a si mesmo, o que viabiliza a definição de estratégias cada vez mais adaptadas aos novos ambientes que se apresentam. Para usar um termo chique, gradualmente, o empreendedor maximiza sua probabilidade de sucesso dando pequenos passos por vez;
Conservadores: não existe nada mais longe da realidade do que acreditar que um empreendedor adora riscos (até hoje, não conheci um!). O que empreendedores bem sucedidos, sim, fazem é arriscar apenas aquilo que estão dispostos a perder, gastando o mínimo possível no começo, apenas para testar uma idéia, ganhar um pouco de confiança e ir em frente. Os empreendedores bem sucedidos, no começo, normalmente não pensam em termos de taxas internas de retorno (TIR) ou valor presente líquido (VPL) de seus projetos, mas, sim, em termos de lições aprendidas, pequenas perdas toleráveis, primeiro cliente atendido. Enfim, eles colecionam recursos que servirão de base para algo muito maior lá na frente, quando, aí sim, TIR e VPL farão todo sentido e deverão ser calculados;
Bem relacionados: a tropa de elite do empreendedorismo tem algo em comum: contatos. Não me refiro ao “networker”, que sai disparando cartões de visita como metralhadora, mas sim a pessoas como eu e você, que tem amigos, família, vizinhos e colegas de trabalho. A diferença, para este grupo nunca está na quantidade de contatos, mas, sim, no fato de que conseguem criar relações frutíferas com indivíduos que podem trazer uma informação inédita, um conhecido disposto a comprar o produto/serviço ou até mesmo uma dica para mudar a cor do website. Neste sentido, os empreendedores não têm vergonha de falar o que fazem, apenas falam e, principalmente, ouvem (prestam muita atenção a qualquer dica e conselho que lhes é dado);
Confiáveis: a regra é simples, os empreendedores de sucesso prometem aquilo que podem entregar e… entregam. Este é um dos elementos que mais afetam novos empreendedores e, em particular, aqueles que começam a crescer aceleradamente e se esquecem da regra de ouro (“um ano para criar uma relação de confiança, um minuto para perdê-la”). A confiança é um dos maiores recursos que empreendedores utilizam ao cultivar qualquer tipo de relação em que se envolvem;
Pró-ativos: os empreendedores de êxito começam. Para eles, “mais vale um único cliente real (que paga, deve, etc.) que mil potenciais”. É com este cliente real que a empresa vai realizar o primeiro e grande objetivo: ganhar dinheiro. É este cliente que vai fazer desabar o “castelinho de cartas” armado na fase de planejamento (neste momento, qualquer planilha perdeu a utilidade). E é ele também que vai ensinar o jovem a ser de fato um empreendedor, este ser que, dentre outras coisas pensa no texto do site e na campanha de e-mail marketing, limpa o escritório, empacota e entrega o produto, emite fatura, consulta histórico de crédito, faz a cobrança, gerencia a conta do banco, pede prazo de financiamento para fornecedores, etc.
Em um momento de crise de confiança, é fundamental que os jovens assumam um dos principais papéis que lhes cabe em nossa sociedade: a criação do futuro. Sou otimista e acredito que, sem neuroses e paranóias, são estes empreendedores reais que vão nos ajudar a salvar o mundo.
Fonte: Igor Tasic – IBMEC São Paulo

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