Amigos criam cursos que ensinam a apreciar cerveja

“Aprenda com o dinheiro dos outros e depois acerte com o seu”. Foi com essa frase na cabeça, ouvida durante uma palestra sobre empreendedorismo na faculdade, que Kathia Zanatta esperou pacientemente pela melhor oportunidade para começar seu próprio negócio. Kathia trabalhou em cervejarias de peso como Paulaner e Schincariol e foi a primeira brasileira a se formar como sommelier de cervejas no exterior. Depois de alguns anos como funcionária em grandes empresas, juntou-se aos ex-colegas de trabalho Alfredo Ferreira e Estácio Rodrigues para criar o Instituto da Cerveja, ao qual hoje se dedica em tempo integral.
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O Instituto é uma iniciativa pioneira no Brasil para disseminar a cultura da bebida. Há cursos introdutórios, profissionalizantes e de especialização com o objetivo de ensinar um pouco mais sobre esse universo. A sede oficial foi aberta no início deste ano em Moema, bairro nobre de São Paulo, mas a história da empresa começou há cerca de cinco anos.
Rodrigues foi quem deu o pontapé inicial. Ele deixou a Schincariol em 2009, após sete anos no grupo, e foi para a Itália fazer um curso de sommelier de cerveja. Assim como Kathia, ele também tinha vontade de empreender, mas não sabia exatamente por qual caminho se aventurar. Durante sua temporada no exterior, começou a se perguntar se não seria um bom momento para inaugurar um curso como esse no Brasil. “O mercado dava ares de que ia crescer. Ofereci o projeto para a Associação Brasileira de Sommeliers (ABS), que só tinha cursos sobre vinho. Eles aceitaram de primeira. Fomos lá para desenvolver esse projeto e em agosto de 2010 inauguramos a primeira turma de sommeliers de cerveja do Brasil”, lembra.
Desde então, mais de mil pessoas já concluíram o curso e as aulas nunca deixaram de ser ministradas por falta de interesse. “Desde a primeira turma que formamos havia uma lista de espera” conta Rodrigues.
A parceria com a ABS ia bem, mas por conta do aumento da demanda e da vontade de deixar o projeto mais com a personalidade dos idealizadores, eles decidiram formatar o Instituto da Cerveja em 2012. Com a nova organização, ficou mais fácil apresentar o projeto ao mercado e idealizar novos cursos. A abertura da sede profissionaliza definitivamente o negócio: os cursos agora terão salas próprias, construídas para facilitar as aulas.
Para todos os gostos
O curso original de sommeliers não é barato (atualmente sai por R$ 2,5 mil), mas o Instituto garante que quem se forma sai pronto para trabalhar com cerveja, seja como consultor em restaurantes, importador ou até mesmo fabricante independente. “O mais gostoso de ver ao final de um curso são pessoas deixando de serem funcionárias de alguma empresa e abrindo seu negócio. Muitos profissionais mudam de carreira”, afirma Rodrigues.
Para quem acha que o assunto é apenas hobby, há os cursos introdutórios. Já para quem quer crescer na profissão, foi lançado recentemente um curso avançado, voltado aos alunos que já se formaram sommeliers e desejam se aprofundar ainda mais no assunto. De olho na demanda crescente por cervejas diferenciadas em bares e restaurantes, será lançado em breve um curso de serviço, voltado para garçons.
Mas a maior prova de que os três amigos entraram no mercado certo, na hora certa, talvez seja o curso de capacitação de professores. A demanda tem sido tão grande que os três não estão dando conta de atender aos interessados e precisam reforçar o time.
“A gente está começando a surfar uma onda que outros países já vêm surfando há 10, 15 anos. Os brasileiros estão começando a descobrir cervejas artesanais”, diz Rodrigues. Segundo ele, 98% das cervejas consumidas no país ainda são “main stream” e as vendas são dominadas pelas quatro grandes marcas (Heineken, AmBev, Petrópolis e Brasil Kirin). Por outro lado, o mercado de cervejas premium cresce 25% ao ano, com o aumento de importadoras e microcervejarias nacionais.
“Um dos termômetros que a gente tem sobre o mercado é a abertura de novos negócios, outro é a demanda por pessoas especializadas em cerveja. Acho que a estamos num momento bom no Brasil. Vale lembrar: a pessoa que consome cerveja especial dificilmente dá um passo para trás. Obviamente que o produto precisa ter um preço convidativo e ela vai experimentar marcas diferentes”, opina Rodrigues.
Estratégia
Para divulgar os cursos, o Instituto da Cerveja adota uma comunicação quase totalmente voltada para as mídias sociais, além de contar com o boca a boca dos ex-alunos. Parcerias com restaurantes, cervejarias e eventos também ajudam a colocar o nome da empresa no mercado.
Com o objetivo de divulgar a importância do profissional especializado na bebida, eles promoveram no início de março o 1º Campeonato Brasileiro de Sommelier de Cerveja. Foram dois dias de prova e o time de jurados contou com dois convidados internacionais.
“Tivemos 90 inscritos e o concurso teve uma repercussão super positiva. A partir das discussões que tivemos ali também percebemos que precisamos criar um padrão de serviço da cerveja no país. Queremos agora convidar donos de bares com tradição cervejeira e criar um consenso, por exemplo, como abrir a cerveja, o que fazer com a rolha, se na hora de servir você inclina o copo ou não”, explica Kathia.
Tanto ela quanto Rodrigues são unânimes em dizer: eles trabalham muito mais sendo donos do próprio negócio, mas estão realizando um sonho. “E veja, eu trabalho com cerveja o dia inteiro e ainda ganho dinheiro com isso, dá para querer mais?”, brinca Rodrigues. Fica difícil discordar.
Fonte: Época Negócios

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