A importância de um projeto de vida na terceira idade
Por Carlos Hilsdorf*
A sociedade em que vivemos nos prepara essencialmente para o mundo do trabalho.
Os europeus dividem a vida naquilo que eles chamam de três fases. A saber:
- Preparação para o trabalho – onde toda preocupação no processo educativo da criança está focado no acesso ao mundo do trabalho;
- Período destinado ao trabalho – refere-se ao tempo em que nos vinculamos às organizações ou qualquer atividade que tenha um caráter produtivo; e,
- Etapa do pós-trabalho – que corresponde ao período da aposentadoria.
Foi a partir desta constatação que, no início da década 80, iniciamos no Brasil os programas de pós-careira, ou seja, preparação de profissionais para uma aposentadoria produtiva e que preserve a autoestima.
Desde a infância somos educados para que tenhamos uma carreira de sucesso e sejamos permanentemente produtivos. E isto funciona relativamente bem até o momento de transição entre a meia e terceira idade.
Quando aproxima-se a fase de aposentadoria, em que as pessoas imaginam que seu único projeto de vida será “desfrutar “, elas defrontam-se com a dura realidade que não se prepararam para isto. E o que é pior, não tem uma visão clara das mudanças que ocorrem com sua vida nesta fase.
Tendem a perder sua autoestima e sentirem-se inúteis no contexto da sociedade. Este sentimento de frustração decorre de um processo cultural que valoriza o jovem, a carreira, o trabalho e o sucesso.
Encarar a terceira idade de maneira positiva requer estar preparado para ela. É a fase em que os filhos já saíram de casa, os amigos começaram a partir desta existência, o interesse pelo parceiro(a) pode diminuir, a energia já não é mais a mesma. Mas, em contrapartida temos muito mais experiência da vida e podemos encará-la de maneira mais realista e menos estressante.
É vital desenvolver um projeto de vida que contemple tudo isto, ou seja, buscar uma atividade que o mantenha em movimento, sentindo-se útil à sociedade e obtendo recompensas, sejam elas de cunho material ou de reconhecimento; estabelecer com o parceiro(a) uma forma efetiva e adequada para o novo momento de vida, pois agora “o ninho está vazio” e precisam descobrir novas formas de enamoramento; estabelecer novos relacionamento ou preservar os antigos, mas sempre dentro de uma perspectiva positiva, não apenas para conversar sobre os problemas da vida; cuidar de si mesmo, tanto física com espiritualmente, não desprezando a aparência externa nem as questões interiores, sejam elas psicológicas ou biológicas; buscar novos interesses como forma de passar o tempo, seja resgatando velhos interesses ou criando outros.
Enfim, é importante considerar que terceira idade não é o fim da vida. É uma nova fase da vida. E ela poderá ser tão plena, bonita e gostosa como as anteriores, ou, quem sabe, até mesmo muito melhor que seu passado.
É vital ter um projeto de vida. Especialmente nos dias atuais em que os índices de longevidade tem aumentado consideravelmente.
* Palestrante do Congresso Mundial de Administração (Alemanha) e do Fórum Internacional de Administração (México). Economista, Pós Graduado em Marketing pela FGV e profundo pesquisador do Comportamento Humano. Colunista de importantes veículos nacionais, é referência em desenvolvimento humano no país. Contato: www.carloshilsdorf.com.br